JUDODinamizar, fomentar e implantar o judo no distrito tem sido o objectivo da Associação de Judo do Distrito de Viana do Castelo, fundada em 1988. No «cadeirão» da presidência do organismo, há 18 anos, está José Oliveira, perfeito conhecedor da realidade da modalidade no distrito, e não só, que revela, em entrevista a «O Norte Desportivo», os bons momentos da Associação e as principais dificuldades, nomeadamente a falta de apoio para a aquisição de material que o impede de desenvolver ainda mais seu trabalho em prol da modalidade.
O Judo surgiu no concelho de Viana do Castelo em 1974, mas só 14 anos depois foi criada a Associação de Judo Distrito de Viana do Castelo (AJDVC). Desde então, José Oliveira toma conta das «rédeas» da instituição que, apesar de algumas dificuldades, atravessa momentos de glória, com o elevado nível competitivo dos seus clubes e atletas.
José Oliveira faz um balanço “positivo” da actividade da Associação. O responsável afirma que “há altos e baixos, como todas a modalidades, mas temos atravessado, nestes últimos três anos, o que nós chamamos nos nossos relatórios de «Anos Dourados»”. A AJDVC tem tido um aumento do número de clubes associados e, consequentemente, um aumento do número de atletas a competir. A aposta foi no sentido da formação: “Durante estes anos conseguimos formar três dezenas de cintos negros, o que é óptimo. Apostámos em todos os sectores da formação, ou seja, na competição, na formação técnica para treinadores, na formação de graduações, que também é importante, e na formação a nível de arbitragem”.
A capacidade de trabalho e os resultados obtidos pela Associação vianense são já reconhecidos em toda a região Norte do País, o que levou alguns clubes, integrados noutras associações distritais, a ingressarem na AJDVC. Exemplo disso é o Judo Clube de Barcelos que devia estar inscrito na Associação de Braga. Para José Oliveira, esta foi uma “mais-valia. É um clube muito forte, tem atletas com boas prestações em provas nacionais e, realmente, veio enriquecer o judo em Viana do Castelo. O responsável acrescenta ainda que “lucraram eles, porque também conseguiram fazer uma progressão que não conseguiam até esta data, e com a nossa colaboração e trabalho em conjunto, conseguimos fazer com que o clube de Barcelos esteja muito bem posicionado”. Para além do Judo Clube de Barcelos, também o Clube de Judo da Trofa, do distrito do Porto, é associado da AJDVC.
O judo em Portugal é já considerado uma modalidade de “referência”, segundo José Oliveira, por aquilo que “conquistou além fronteiras e pelos títulos que tem trazido para o País”. O dirigente associativo considera que o “lugar de destaque”, já adquirido, só foi possível com o trabalho que a Federação Portuguesa de Judo tem vindo, de igual forma, a desenvolver. “Tem feito um trabalho bastante dinâmico, apoiado também pelas associações, pelos clubes e atletas. Tem valorizado a modalidade. No nosso caso, naturalmente que isso é sempre bom. Se a estrutura federativa estiver a funcionar bem, nós vamos lucrar com isso”, elogia.
No que diz respeito à realidade do distrito de Viana do Castelo, José Oliveira garante que o “nosso papel é dinamizar, fomentar e tentar implantar a modalidade”, uma tarefa por vezes complicada de executar, devido à falta de verbas para adquirir material, para desenvolver o trabalho pretendido. As dificuldades são, no entanto, também uma realidade no Judo, a começar pela falta de técnicos, no que diz respeito a localidades mais distantes da cidade de Viana do Castelo. “Precisamos de mais quantidade, porque os actuais técnicos têm a sua vida e o Judo ainda não é uma base de sustento para essas pessoas ganharem no final do mês um ordenado que possa sustentá-los”, refere. Para além disso, também a falta de material é um problema. José Oliveira salienta que os técnicos da Associação localizados na zona de Viana do Castelo “não têm condições para desenvolver ainda mais o Judo. As pessoas querem Judo e ligam para a Associação, mas nós dizemos que precisam de material”. A título de exemplo, o presidente da AJDVC refere “os célebres tatamis, os tapetes onde se desenrolam os combates, que não são materiais baratos. A Associação tem uma área competitiva, fornecida pela Federação, destinada para as provas oficiais e para desenvolver a modalidade, e temos tapetes espalhados já em muito mau estado que vamos entregando aos clubes para eles irem desenvolvendo a sua actividade. Não podemos fazer mais, porque também não temos mais material”.
A falta de material, a par com o número reduzido de técnicos que “não é suficiente”, impedem a Associação de corresponder aos pedidos. “As solicitações são muitas. Toda a gente quer o judo e isso deve-se a iniciativas que promovemos como demonstrações, exibições de judo o levar o judo à escola, tudo em parcerias com o Instituto do Desporto de Portugal. Entregamos o rebuçado e depois não temos possibilidades de fazer mais. Fazemos demonstrações, fazemos acções de divulgação, acções formativas, e depois falta-nos material para continuar o trabalho, acrescenta o responsável, salientando que este não é um problema exclusivo do Judo, mas que abrange qualquer modalidade. Neste sentido, José Oliveira afirma que “precisamos de mais apoio das autarquias. Nós somos uma associação distrital da modalidade. Precisávamos que essas autarquias ajudassem a Associação, porque no fundo a única autarquia que nos apoia é a autarquia de Viana do Castelo”.
Apesar das dificuldades, o trabalho desenvolvido pela Associação já produziu campeões nacionais em todos os escalões e já levou ao aumento do número de clubes e atletas associados. A AJDVC tem apostado também na área da formação, o que para o dirigente “é também muito importante”, nomeadamente formação dirigida a técnicos, estágios para competidores e outro tipo de acções dirigida à arbitragem ou, como por exemplo, para a atingir a graduação máxima dos atletas na modalidade, os cintos negros. “Há dois anos para cá já conseguimos formar 30 cintos negros, o que é óptimo. É sinal que há uma evolução”, acrescenta.
A AJDVC tem tido especial atenção aos escalões jovens da modalidade, promovendo torneios pedagógicos, como o «Torneio Quadrangular», destinado a crianças com idade até aos 14 anos e que é levado a quatro localidades diferentes. “Os clubes solicitam à Associação que querem fazer parte de uma fase desse torneio e nós vamos lá. São torneios que movimentam cerca de 100 a 150 míudos em cada localidade. Se os juntarmos todos, temos à volta de 500 crianças que passaram num tapete de judo”, sublinha.
Espaço próprio precisa-seSempre com a esperança de fazer mais e melhor a Associação relembra o facto das provas oficiais de apuramento para os campeonatos nacionais da zona Norte serem realizadas em Viana do Castelo. Para tentar trazer campeonatos nacionais e internacionais ao distrito, José Oliveira salienta que, como projectos de futuro, ainda não desistiu de um espaço próprio da Associação para desenvolver o seu trabalho da melhor forma possível. O dirigente afirma que “temos mais do que provas de que precisamos urgentemente de um local de treinos específico para o judo em Viana do Castelo”. A AJDVC conta, actualmente, com a cedência, por parte da Câmara Municipal, do Pavilhão Municipal de Monserrate, onde estão sedeados, mas “não temos condições para fazer estágios e competições”, garante. Com as condições ideais para a práctica da modalidade, a instituição podia “desenvolver um trabalho. Não podemos fazer um plano de treinos ou um plano de divulgação sem termos instalações”. José Oliveira acrescenta ainda que os resultados obtidos em competições nacionais “são puros milagres” e que “todas as pessoas que conhecem a realidade do judo em Viana do Castelo ficam admirados com o que nós fazemos”.
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